Há dias que não há leveza na poesia.
A brisa não sopra nos cabelos
O beijo não chega à face
E no cume dos montes os pinheiros não balançam
Há um estancar dos ventos
Uma morbidez de pensamentos
Um não desabrochar da flor
Nas estradas passeiam vagabundos
Vão com suas roupas rotas
Nas costas o mundo, e as sacolas cheias de nada
E eu que sou poeta, não sou diferente deles
Perambulo pela vida
Levo aos ombros versos crus
Vazios de ternuras ou amores
Paralelepípedos
Um peso
Um estorvo
Um corvo à revoar num céu cinzento
Há dias assim...
Dias que nem são choros nem risos
Somente são
Passam lentamente
Indiferentes ao cançaso de tudo
Ao fastio de tudo
Há tudo que ainda verseja
E as águas do mar estão tão calmas...
Cá dentro a poesia persiste
Ainda que eu não.