Jardim contrário
Fico ilhado na minha quietude
a televisão é a única nota viva no silêncio da noite.
É o meu mundo ilógico e profundamente inquietante.
É um mundo gemendo, como um gonzo enferrujado.
O envelhecimento brota os passos e a tristeza brota insólita.
Até as árvores se envolvem num abraço de galhos e folhas
mas nenhum devaneio sacode o meu sonho
meu vento é frio e espanta os pássaros que buscam abrigo e calma.
Os pés inventam caminho para chegar a ela
assim, lúcido e louco
persigo seus pés
muito e muito
pouco a pouco
e nos desvãos
busco suas mãos
espero reencontrar o amor que necessito
para derrubar o muro coberto de musgo verde escuro.
Mas em profundo sigilo, sigo à procura do início
do vício
de habitá-la.
O corpo não entende
o que a alma esplende.
Se digo sim, o eco bate em mim.
Se digo não, a palavra cai no chão.
Se nada digo, o coração galopa.
2014 é o ano da Copa.
O amor espoca.
Afino o canto da busca e entoo um hino.
Jardim contrário.
Velhice, folhas e talos.
Crepúsculo,
estalos.
No peito um calombo que coça em dó maior
e faz a vida pior.
Um púcaro que colhe
aquilo que não me acolhe.
Lagoa de água parada.
Mosca no açúcar da gemada.
A língua deixa a saliva coagulada.
Tudo que hoje acontece
não foi ontem
fico olhando a noite, a noite escura.
Não me resta letra sobre letra.
O amor longe, longe, longe.
Nada ressurgiu.
Puta que pariu...