Agoniza
Quando beijares os vermes dos teus filhos,
Saberás que a vida é uma poça de merda,
No escorrer de fluxo que é sempre vadio,
Descamando os pelos no desespero da tragédia.
Réptil de sangue quente e vazio,
Encharcando a sarjeta da existência,
Apegado a qualquer fator doentio,
Angústia de rebeldes cagando clemência.
Aleijado de todos os apoios,
Perfumado pelo esgoto dos dias,
Vomitando seu próprio desgosto,
Restando o fosso até a boca de nojo.
Gargalhando tripas defecadas,
No rastejar patético do tédio,
Epilético falseando a sua vala,
Trepida no abalo sísmico de néscio.
Foda-se essa falsa realidade,
Cheias das verdades putrefatas,
Vexame de moscas em vaidade,
Copulando ascos por vaidade.
Chora e rasga o olho do cu,
Faça do drama torpe teatro,
Deus Ex Machina de Carandiru,
Esfolando o proletário descarnado.
Dança mãe aflita sobre o feto abortado,
Estupradas filhas de uma pátria cretina,
Dos céus não vem salvação e nem pecado,
Sacrifício é vício que a desigualdade sentencia.