Dores
Se as dores falassem,
A respeito daqueles dias,
Como se o mundo negasse,
O que antes pensei ser vida.
Na depressão dos pensamentos,
Desconstruídos feito pedras,
Caindo em um desabamento,
Dos montes de nossas tragédias.
Prevendo o próximo infortúnio,
Pelas palavras do profeta medonho,
Que se mostra pessimista em tudo,
Transformando pesadelos os sonhos.
Vendo nos rostos espelhos,
Faces de olhos baixos,
O chão esconde os segredos,
Endurecendo os magos.
As esperanças desiludidas,
Esquecidas propositalmente,
Já que o futuro é uma agonia,
Ao suicida do tempo presente.
Espremido no mundo,
Que parece uma bola de papel,
Amassada e sem uso,
Comprimindo o espaço do céu.
Esmagando a aquarela da arte,
Que sufoca em gotas púrpuras,
Anunciando um vulgar desastre,
Travando aquela selvagem luta.
Compondo a platéia de mendigos,
Já que todos fazem parte disso,
Buscando no mais íntimo do lixo,
Um resquício do mito corrompido.
Ouvindo a música das lamentações,
Que ecoa pelos pátios desertos,
Arrebentando nos muros as orações.
Todo desiludido sem amor é sem teto.