Vozes

São tantas vozes nesses vagos silêncios.

Aquelas crianças chorosas, caídas rotas em calçadas amarguradas.

Filhos de uma desgraçada premeditada.

Seus pais anunciaram o desespero, jogando rebentos de filhos deixados às traças, comidos desde as primeiras tripas umbilicais.

Que dor essa a da barriga, que revira os intestinos.

Nessa sina de um destino que a tudo aflige.

Não existe choro que consiga fazer suportar o martírio do dia-a-dia, que é uma amargura sombria, que expressa feições em faces de melancolia.

Pés rachados que esmagam o solo duro que castiga.

Prisão livre desses seres sem companhia.

Desabrigados do amor que um dia os gerou.

Quase querem acolhê-los.

Se não fosse o medo perante o mistério.

Talvez pudéssemos ter menos lápides nos cemitérios.

Abraçados como cães congelados.

Doídos por dentro e fora.

Com dedos miúdos pedindo esmola.

O olho do sensível, quase chora.

Mais a pressa é grande e ele vai embora.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 14/08/2013
Código do texto: T4434498
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