Vozes
São tantas vozes nesses vagos silêncios.
Aquelas crianças chorosas, caídas rotas em calçadas amarguradas.
Filhos de uma desgraçada premeditada.
Seus pais anunciaram o desespero, jogando rebentos de filhos deixados às traças, comidos desde as primeiras tripas umbilicais.
Que dor essa a da barriga, que revira os intestinos.
Nessa sina de um destino que a tudo aflige.
Não existe choro que consiga fazer suportar o martírio do dia-a-dia, que é uma amargura sombria, que expressa feições em faces de melancolia.
Pés rachados que esmagam o solo duro que castiga.
Prisão livre desses seres sem companhia.
Desabrigados do amor que um dia os gerou.
Quase querem acolhê-los.
Se não fosse o medo perante o mistério.
Talvez pudéssemos ter menos lápides nos cemitérios.
Abraçados como cães congelados.
Doídos por dentro e fora.
Com dedos miúdos pedindo esmola.
O olho do sensível, quase chora.
Mais a pressa é grande e ele vai embora.