Andando
Andava pela rua,
Sem ter o que pensar,
Vomitei carne crua,
Que comi naquele bar.
Estava cheio de bebida,
Ou o álcool cheio de mim,
Não sabia onde eu iria,
O que me fez vagar por aí.
Encontrei moradores,
De calçadas populares,
Papelões como cobertores,
Andei por todos os lugares.
Disputando os tocos,
De cigarros baratos,
Abandonados soltos,
Tabacos desperdiçados.
Fedendo a lixo,
Já que me sentia um,
No poste mijo,
Cão de rua, vagabundo.
Não me assaltam,
Só me espancam,
Orgulhos me faltam,
Os machucados estancam.
Sou a flor murcha,
Apodrecida,
Que nasce sob censura,
Vítima da vida.
As vitrines,
Com espelhos monumentais,
Pessoas chiques,
E nós, vistos como animais.
Ainda sinto o sabor,
Daquela carne de gato,
Que no beco alguém preparou,
Fingindo ser a do açougue, de gado.
Sem parentes,
Nada de história,
Mundo indiferente,
Afogadas memórias.
Resto de homem,
Feito os pedaços de vômito,
Ninguém mais come,
Apodrece nesse mundo manicômio.
Só vou conseguir chegar,
Até o próximo bar da esquina,
Uma nova dose após mendigar,
Rezando que não tenha um próximo dia.