Pano
Pego esse trapo,
Rodopiando,
Dou um laço,
Jogo num canto.
Tecido velho,
Limpa móveis,
Flanela de metro,
Não rasga, é forte.
Na cintura vira kilt,
Pra donzelas é saia,
Não há um que não agite,
Pois o vento varre a sala.
No chão é piquenique,
Lençol pequeno de amor,
No varal balança com pique,
Seca suor de testa com calor.
Rasgado em algum momento,
Transformado em sobra,
No carro dá até polimento,
Cobre o pássaro que está na gaiola.
Guardanapo limpa a boca,
Jogo de toalhinha para lanche,
Na cabeça se faz de rude toca,
Véu de nudez por um instante.
Seca o sangue,
Limpa o chão,
Dentro do tanque,
De molho com sabão.
Cobre o rosto islâmico,
Encobre a brecha que entra o sol,
Enxuga lágrimas em triste pranto,
Arrastado por cães sem dó.
Roto logo apodrece,
Deixado no lixo,
Útil, por mais que o reneguem,
Triste pano, largado, esquecido.