O poeta
O poeta
Sou o poeta ensandecido, calado, maltratado,
Louco de pedra, enganado,
Injusto, errado.
Venho e vou ao pó,
Com um coração de pedra-sabão,
Pronto para moldar ao teu bel prazer,
Aquilo que você mais desejar,
Sou castrado, encurralado,
Fico de lado,
Esperando pelo leite amargo.
Finjo que amo e que perdoo, que fujo e que morro,
Me faço de duro,
Me torno dobrado,
Sou de ferro,
Sou de papel.
Sou o poeta que é sábio,
Que é criança inocente,
Que só tem um desejo,
Que só tem um coração,
E dele não abre mão.
Fico sinistro, escuro,
E por dentro, tenho o mundo apagado.
Feito ponta de cigarro.
Estou sem brilho,
Com o holofote queimado,
Sem persona principal.
Perco as rimas, e me perco junto a ti,
Me erro por aqui e ali,
No labirinto de sua lágrima,
Que pesa uma tonelada.
Sou o poeta palhaço,
Injusto e mal criado,
Que me perco nos amores e seus dissabores,
Me encontro nos olhos castanhos,
De uma morena que tanto amei,
E agora, ela chora sem eu poder saber se vai ficar bem,
Fiquei perdido, sem chão,
Acho que vou estourar feito bola de sabão.
Estou cansado, estou perdido, sem saber se o que fiz,
Poderá ser definido.
Vejo vingança no ar,
Maldade pura daquele que está a nos olhar,
E ele sabe que vai rir,
Pois já cantava vitória sem saber,
Apostando suas fichas sem ver,
Apostou no cavalo certo, maldito seja!
Só que agora, é ele quem vai chorar,
Pois tua farsa descoberta está.
Sou o poeta perdido,
Iluminado de inspiração,
Que como uma lufada,
Me trouxe de volta essa emoção,
Me sinto escuro e abandonado,
Uma dor, causada pelo meu próprio afago,
Que sem mais nem menos,
Fugiu do meu prato.
Sou o poeta que não sabe ler,
Nem escrever,
E agora, nem sabe o que vai ter que fazer...