Decrépito

Quão triste é a decrepitude,

Afligindo o corpo castigado,

Que já fora outrora mais rude,

Agora se dobra torto, curvado.

A esperança é a flecha lançada,

Que percorre o espaço vazio,

Nunca alcança um alvo, a coitada,

Vagando sem rumo, sem destino.

O consolo vem na forma de placebo,

Adentrando os ouvidos fatigados,

Dizem que assim é a vida, não tem jeito,

Mas o homem quer ser mais que um fardo.

Tantas cargas no lombo servil,

Tantas dores acumuladas,

Outro dia um de fato, partiu,

Outra hora que se fez nublada.

Se fosse uma comédia,

Arrancaríamos risos estridentes,

Mas é bizarra pilhéria,

A boca não conserva nem os dentes.

O cão, tão poderoso,

Agora ganindo,

Parece dócil leproso,

As partes caindo.

Tristeza ver a vida dissolvendo,

Com o sujeito em agonia,

Sente no fundo o que está perdendo,

Por isso no rosto, a expressão vazia.

A nuvem cria uma tempestade sobre si,

Perseguido pela sombra do infortúnio,

Banido no meio dos outros, sem ter onde ir,

Apontado como se o seu drama fosse público.

Mãos que escoram-no por entre objetos,

Rastejando pelas dificuldades do trajeto,

No desespero, somos caminhantes cegos,

Lutando contra o medo, seu único credo.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 19/10/2012
Código do texto: T3940945
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