Um Pai
Pai!
Onde estás?
Sei que te vejo,
Todos os dias,
Esse é meu medo,
Enxergo sem vida.
Caminha por entre cômodos,
Portando suas roupas cotidianas,
Teu silêncio é um incômodo,
Parece uma janela com persianas.
Se te dou algo,
Nunca é suficiente,
Estou em um palco,
Com platéia ausente.
Por isso simulo,
Nesses brinquedos,
Que são todos mudos,
O seu próprio modelo.
Falta recordar o afeto,
Ficaram apenas as repreensões,
Ainda ecoam os berros,
Não pode ter havido só acusações.
O gesto de pedinte,
Estendendo as mãos,
Para obter alguns níqueis,
Pecuniária relação.
Talvez quisesse fazer mais,
Só que foi endurecido,
Por isso o espanto quando chorais,
Sua emoção é sem sentido.
Exercícios de Matemática,
Palmadas e hálito de bebida,
Cigarro na boca, dando baforadas,
Refeições com hora pré-estabelecida.
Humilhava sua esposa,
Atritos de caráter conjugal,
Só que era minha mãe a pessoa,
O que torna minha raiva passional.
Heróis são exemplos,
Que desejamos seguir,
Nessa convivência que tivemos,
Jamais quis seus passos adquirir.
Escutava sobre teologia,
O paternalismo de um deus rígido,
Assim me fiz ateu com alegria,
Fujo dessa herança de oprimidos.
Virilidade covarde,
Que mérito teria,
Pisar duro nos lares,
Onde só quem depende, temia.
Acuar não é ser respeitado,
Na primeira oportunidade,
Matamos o que nos faz aterrorizados,
Ninguém deseja ser escravizado nessa sociedade.
Mas compreendo seu dilema de macho,
O último apelo do modelo decadente,
Que tenta ganhar no grito o resultado,
Já sabendo que é perdedor no inconsciente.
Não precisa forçar um sorriso,
Continue rude como antes,
Dessa mentira eu não preciso,
Consigo sem isso seguia adiante.
Contarei às novas gerações,
Sobre esses duros passados,
Para que sirvam como lições,
Do que nunca terão precisado.
Sejamos pais,
Não nos esquecendo de antes,
Termos sido,
Filhos.