ILUSÃO POÉTICA


A minha poesia é pobre, é simples,
Jamais sonhou ganhar troféu,
Banhar-se em palmas de ouro.
Ela sonha.
Seria cruel a si mesma se o não fizesse.
Porém, com algo mais próximo,
Mais carente à sua forma
E ao seu poeta.

Ela apenas sonha
(Pobre espantalho!)
Tanger-me de dentro
Uma saudade sem asas...
Um pranto seco, imóvel na alma,
Que não rola tristeza abaixo...
Uma dor muda, sem ais,
Bordada de chagas, e tão sensível
Como as leves bolhas de sabão
De um tempo distante,
E tão próximo,
Que chispou solitário
Sem me dar carona em seu dorso...
Uma infância que subiu
Nalgum balãozinho que lancei ao céu
Em noite de São João,
E que cresceu desproporcional
Ao pequenino berço que a embalou...

Ah! Se ela ao menos despertasse
Da prateleira do coração,
Onde jaz empoeirada,
Disforme e triste,
Talvez lesse nestes olhos frios,
Quase mortos,
O facho que ainda luz
E enuncia: é em vão!

Aécio Cavalcante
Enviado por Aécio Cavalcante em 01/02/2007
Código do texto: T366669