Eu, Bicho, Homem
Eu, Bicho, Homem
Aquela batida profunda,
Aquele som pesado,
Aquele barulho sombrio,
Aquela sedução palpável,
Aquele sexo escondido,
Aquele cigarro apagado,
Aquele olhar desprezado,
Aquele coração mal-amado.
Esse amor desgraçado,
Esse corpo caído,
Esse cérebro retardado.
Sentimentos apagados, esquecidos,
Meus sonhos esquartejados.
Fico na sarjeta jogado,
Sem um centavo para o pão.
Pensam que não sou mais humano,
Virei bicho, animal castrado, cortado,
Sigo sem vida, dilacerado.
Esperando o tostão para o próximo pingado.
Fico à custa da caridade para dar o próximo trago,
Espero sentado na beira da Augusta,
Olhando para a bunda nua das putas.
Escutando de longe aquela batida eletrônica,
Que só me deprime e me faz pensar que eu era assim.
Hoje estou velho sem estar, caindo aos pedaços sem respirar,
Escutando Depeche para tentar me acalmar.
Hoje descobri que estou velho, rabugento, sinistro e sombrio.
Perdi a paixão pelo mundo, joguei fora meu orgulho e o amor próprio.
Não me dou mais ao luxo de ter meia hora de preguiça,
Estou fraco, entediado.
Digo adeus aos vícios sem dizer,
Minha boca que ontem beijou, hoje é a que profana e escarra,
Se dirige aos céus e ao inferno,
Mandando D’us e o Diabo irem se foder.
Me sinto preso e lascado pelas minhas próprias escolhas,
Fico confuso, sem saber o que fazer.
Me drogo para esquecer do mundo,
Me embriago para trepar com ele,
Durmo para fugir dele.
Você acha que é covardia?
Dane-se.
Coloque-se no meu lugar e sinta esse vexame,
De viver como o bicho-homem que quero deixar de ser.
Principalmente,
Porque hoje eu queria desistir é de renascer.