Aborto
Pobre semente caiu na pedra quente
Pediu o pé-de-vento pra chutar para terra
“preciso germinar”.
Um sopro leve e em um buraco fundo e triste
Foi cair, onde o sol não se via clarear.
A água, a água pode me salvar, “preciso germinar”.
Chuva caiu, rios, lagos, açudes transbordaram
A enchente a semente para bem longe levou
Nas terras tristes onde o chão é negro foi parar.
Pobre semente no asfalto quente clamava
Já inchada “preciso germinar”. Gente, carros velozes
Para o lixo a pobre semente foi atirar.
A pequena semente no aterro sanitário
Foi parar. Gases, lixo, podridão a semente
Foi cheirar, “preciso germinar”.
Fogo no monturo a semente foi achar,
O broto já lhes sai. Fogo lentamente
queima semente e o broto que terra não achou.
Pobre semente que só queria um minúsculo
Pedaço de chão e nesse mundo cão
só achou desilusão.
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