Desabafo e ruína

Tu esteve sujando tuas mãos

Com meu disfarce de veludo,

Que no fundo

Sempre foi carapaça espinhosa:

É isso o que tu pensas,

Pois na tua cabeça

Foi desenhada

Toda uma esquematizada

Teoria sobre nós.

Tempo perdido em dedicação ao nada,

Juventude desperdiçada,

Arrependimento;

Quase sempre o tempo

Esquece de si mesmo

E transforma em outra coisa

O que foram bons momentos,

Ou talvez nem tenham sido,

Pois o eterno agora

É eternamente traiçoeiro

E não permite a imparcialidade

Que só vem com o distanciamento.

Tu esteve enrugando tua pele

Com meu contato,

Com meu pêlo insensato

E transmissor de piolhos assassinos,

Que sugam forças

E transmitem outras doenças

Ainda mais terríveis

Que as possíveis.

Mas, puta merda,

Não tive nenhum gesto decente?

Não transmiti nenhuma espécie de bondade,

Mesmo que inconscientemente,

Mesmo que instintivamente?

Não acredito ser possível a existência

De tamanho amontoado de maldades,

Apenas arrogante

E também incoerente,

Pedante,

Inconseqüente,

Farsante,

Distante,

Maledicente,

Insignificante,

Indiferente,

Que passou pela tua vida,

Diabolicamente,

Destinado a te fazer

Doente.

Não, não, não!

Sei que a tua versão

Não é fiel aos fatos,

Embora admita que tenho

Infinitos defeitos,

Ainda acredito que

Pelo menos

Setenta por cento

São qualidades.

E não venha com a tentativa falha

De me elogiar,

Me chamando de honesto,

Pois isso não é nenhuma virtude,

E sim o óbvio.

E não venha com a cínica navalha

Camuflada de leque,

Acariciando-me com brisas breves

Que escondem o desejo tempestuoso

De mais ódio.

21/01/2012

EDUARDO NEGS CASTRO
Enviado por EDUARDO NEGS CASTRO em 23/01/2012
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