Poema monumental

Eis que o poeta

Fora do seu estado normal

Achou que tudo lhe fosse possível

Até mesmo escrever um poema fundamental

Um poema que envolvesse todos

Homens, seres e pedras

Sonhos, noites e dias

Tudo pintado

Com a tinta de sua melancolia

Então, ele pegou papel

E fez do seu dedo um pincel

E começou a escrever

Um poema descomunal

Foram-se dias

Foram-se noites

E poema não terminaria

No caderno que o poeta pensou escrever

Ele percebeu

Que nenhum papel poderia conter o seu final

E começou

A usar as paredes de sua casa

Como material

Escreveu letras após letras

Compondo um poema monumental

As paredes se acabaram

Mas o poema não findava

Na sua mente anormal

Ele riscou o chão

Ele riscou o forro

Os pratos

As panelas

O fogão

Seu poema era sua agonia

Seu poema era sua solidão

Era sua única companhia

O poema da dissolução

Ele saiu pelas ruas

Seus dedos estavam sangrando

E o povo todo ficou olhando

O poeta que se perdeu

E que pelas ruas foi riscando

Versos e mais versos

De um poema sem fim

Ele encheu os muros das cidades

Com mensagens que ninguém entendia

Mas que para ele

Eram tão claras

Tão necessárias

Como o nascer do sol em um bom dia

Mas acharam que ele estava louco

E o levaram

Para a prisão

E lá naquele cubículo

Ele também encheu de palavras

As paredes sujas

Que o prendiam

E quando ele não tinha mais onde riscar

Ele riscava o seu corpo

E percebeu que só mesmo morto

Poderia o poema terminar

Teve um dia

Que o foram visitar

Parentes envergonhados

Mas não mais puderam o encontrar

A cela estava vazia

As suas roupas estavam frias

E ele se transformou

Na sua própria fantasia

Não tinha lugar para ele nesse mundo

Ele era um ser com problema mental

Era assim que todos o viam

Assim é o meu poema monumental,

Nada escrito

Apenas uma imaginação transcendental...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 09/01/2007
Reeditado em 09/01/2007
Código do texto: T341922
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