Poema monumental
Eis que o poeta
Fora do seu estado normal
Achou que tudo lhe fosse possível
Até mesmo escrever um poema fundamental
Um poema que envolvesse todos
Homens, seres e pedras
Sonhos, noites e dias
Tudo pintado
Com a tinta de sua melancolia
Então, ele pegou papel
E fez do seu dedo um pincel
E começou a escrever
Um poema descomunal
Foram-se dias
Foram-se noites
E poema não terminaria
No caderno que o poeta pensou escrever
Ele percebeu
Que nenhum papel poderia conter o seu final
E começou
A usar as paredes de sua casa
Como material
Escreveu letras após letras
Compondo um poema monumental
As paredes se acabaram
Mas o poema não findava
Na sua mente anormal
Ele riscou o chão
Ele riscou o forro
Os pratos
As panelas
O fogão
Seu poema era sua agonia
Seu poema era sua solidão
Era sua única companhia
O poema da dissolução
Ele saiu pelas ruas
Seus dedos estavam sangrando
E o povo todo ficou olhando
O poeta que se perdeu
E que pelas ruas foi riscando
Versos e mais versos
De um poema sem fim
Ele encheu os muros das cidades
Com mensagens que ninguém entendia
Mas que para ele
Eram tão claras
Tão necessárias
Como o nascer do sol em um bom dia
Mas acharam que ele estava louco
E o levaram
Para a prisão
E lá naquele cubículo
Ele também encheu de palavras
As paredes sujas
Que o prendiam
E quando ele não tinha mais onde riscar
Ele riscava o seu corpo
E percebeu que só mesmo morto
Poderia o poema terminar
Teve um dia
Que o foram visitar
Parentes envergonhados
Mas não mais puderam o encontrar
A cela estava vazia
As suas roupas estavam frias
E ele se transformou
Na sua própria fantasia
Não tinha lugar para ele nesse mundo
Ele era um ser com problema mental
Era assim que todos o viam
Assim é o meu poema monumental,
Nada escrito
Apenas uma imaginação transcendental...