As faces que me deram

Muitas faces me deram

Desconhecidos próximos,

Em riste me diziam,

Como conhecedores do futuro,

Que de certo feito eu seria,

Muitos, muitos me diziam coisas que

Eles próprios não sabiam...

Entre tantos gestos duros

E palavras de intimidação

Eu sonhava no escuro,

Imerso em completa solidão,

Com inefáveis carinhos

Que acalentassem meu coração

Hoje não reconheço a face

Que tenho

E não sei em que ponto comecei,

Não sou indigente,

Nem sou rei

Se cheguei, não sei de onde venho

A mulher inexistida que amo

Visita-me na noite avançada

Como a querer-me dizer,

Numa linguagem sobrenatural

Que sou algo,

Que não sou o nada...

No entanto seus gestos,

Tão desejados,

Não me abraçam em meio à madrugada

E assim entre as faces

Que me deram

Incitado pela mulher

Desincorporada,

Procuro uma em que

Me reconheça,

A sonhar

Com o dia em que

Deixarei de ser um nada.

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 28/12/2006
Reeditado em 28/12/2006
Código do texto: T329610
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