As faces que me deram
Muitas faces me deram
Desconhecidos próximos,
Em riste me diziam,
Como conhecedores do futuro,
Que de certo feito eu seria,
Muitos, muitos me diziam coisas que
Eles próprios não sabiam...
Entre tantos gestos duros
E palavras de intimidação
Eu sonhava no escuro,
Imerso em completa solidão,
Com inefáveis carinhos
Que acalentassem meu coração
Hoje não reconheço a face
Que tenho
E não sei em que ponto comecei,
Não sou indigente,
Nem sou rei
Se cheguei, não sei de onde venho
A mulher inexistida que amo
Visita-me na noite avançada
Como a querer-me dizer,
Numa linguagem sobrenatural
Que sou algo,
Que não sou o nada...
No entanto seus gestos,
Tão desejados,
Não me abraçam em meio à madrugada
E assim entre as faces
Que me deram
Incitado pela mulher
Desincorporada,
Procuro uma em que
Me reconheça,
A sonhar
Com o dia em que
Deixarei de ser um nada.