Olhos de espera...
(À Vera Cruz)
Se tu respiras agora
Dizendo a ela que se vá
A companheira das horas silenciosas,
A solidão que em ti há,
Sim, a Solidão
Que sempre nos vem
Sem se importar
Com o ser bem-vinda ou não...
E se diz que ela te ti se foi
Eu acredito
Mas também não sei
Porque se for como em mim
Ela vai e volta
Num indefinir-se sem fim...
Outro dia
Sentir o coração apertado,
É sempre assim
Quando ela chega ao meu lado,
E talvez tenha sido essa que de ti
Se foi
Que chegou por aqui,
Noutro ser,
Noutro coração lacrimante,
E se acomodou
E o achou aconchegante...
Acho que a solidão que te deixou
Saiu envergonhado e andou... andou...
E veio um dia de madrugada
E no meu coração se depositou...
É... foi isso que aconteceu.
Todo mundo dela se livra,
Se livrou... Só não eu...
E se ela não te deixou,
Se ela ainda de ti se apondera,
Se ao dobrar a esquina te enganou,
Creia, ela numa noite me visitou,
A mesma que te deixa com olhos de espera,
Em mim também se plantou
E fez de minha realidade uma quimera,
Uma Quimera,
Minha realidade é uma quimera,
Um quadro
Onde foi desenhado
A espera...
Minha realidade é uma ilusão
De músicas, de degelos,
De poesias,
De surdas sinfonias,
De todos os gestos da solidão...