Foi na Primavera

As pessoas diziam,

Que chegara a primavera,

Pra mim se iludiam,

Sem você, o mundo congela.

O inverno se manteve,

As folhas pra mim continuavam a cair,

Natureza morta infinitas vezes,

Ar gélido e cinza que a depressão ia garantir.

Minha realidade,

Não acompanhou as estações,

Era dor de saudade,

Mundo de costas às minhas emoções.

O verde das plantas parecia opaco,

O sol arrefecia por entre nuvens da melancolia,

O som da vida tornou-se chato,

Ambiente doente que causava pavorosa agonia.

Sabia que era clima primaveril,

Por que as pessoas comentavam,

Acreditava ter parado na estação do frio,

Os motivos não me entusiasmavam.

A vida renascendo e eu remorrendo,

Ausência que sempre renova o desespero,

Tristeza que o solo da alegria vai corroendo,

Faço de cada momento um novo enterro.

Queria hibernar pra esperar passar,

Mas como na canção do Tom Jobim,

"Tristeza não tem fim", só posso lastimar,

Ainda busco forças para que possa existir.

O coração gélido endurece o instante,

Num sopro de morte que causa arrepio,

Faço de meu ser um motivo infame,

Um sombra que perambula com fastio.

As auroras parecem crepusculares,

Sorrisos que são plágios de crânios cadavéricos,

A melodia é fúnebre, com notas singulares,

Por mais que o riso seja suave, vejo-o sério.

Contemplo Dionísio chorando,

O céu a qualquer momento irá ruir,

Por dentro estou desmoronando,

Sou um rio que não consegue fluir.

Só a tristeza está desaguando em mim,

Num fluxo ininterrupto agonizante,

Uma ferida aberta que não consigo suprimir,

Humor ácido que corrói meu interior suplicante.

Essa Quimera corre livre,

Aterrorizando minha existência,

Sou atacado por esse alvitre,

Sabendo que eu propaguei a maledicência.

Nem chove e se chovesse,

Seria água sufurosa,

Antes que tudo morresse,

Mergulharia na memória.

Enlouquecendo até perder-se de mim,

Sem expectativa de porvir florescente,

Um pântano pegajoso que só faz reprimir,

Incessantemente uma criação improducente.