Eu não presto para ser poeta
Eu não presto para ser poeta
Eu tenho a alma violada
Eu não posso, como esses caras,
Escrever palavras animadas...
Eu não presto para ser poeta
Eu estou com a alma amargurada
E não sei a quem possa interessar
Estas palavras inacabadas
Eu não presto para ser poeta
No meu canto não há brandura
Não sou pessimista inveterado
Eu fui por mim mesmo abandonado
O papel em que risco é amassado
Como está meu rosto pela amargura
Me falta o que não pode ser adiado
Do avesso sabor experimentado...
Eu não presto para ser poeta
Não sei destilar doçuras,
Minha mão não consegue alcançar,
Não vou jamais conseguir
A singeleza das almas puras
Eu não presto para ser poeta
E se me contrario em confessar
Fazendo o oposto do que digo
É porque não posso evitar
Eu não presto para ser poeta
Foi de mudanças que se formou
Cada mísera parte de mim,
Assim, não tive quando desejei,
E quando não quis veio o fim,
Não das coisas que eu amei,
Se as quis, não fizeram parte de mim
Eu não presto para ser poeta
Eu fui completamente desmembrado
E não sei onde vive, nem encontro
Certas partes que tenho procurado...