A Cegueira da Visão

Olho pra você,

Mas não te vejo.

Passo todos os dias,

Por sua pessoa na rua,

Ninguém acreditaria,

Não veria nem se estivesse nua.

Os olhos te fitam,

Mas não te percebo.

Uma vez estava chorando,

As lágrimas caindo em cascata,

Nem me dei conta do seu pranto,

Prossegui em minha fria caminhada.

Quanto mais te olho,

Mais eu te esqueço.

São tantos rostos iguais,

Sentido figurado de rostos,

Nem distinguo traços faciais,

Não diferencio um do outro.

Você toda iluminada,

Meu olhar sobre ti, negro.

Quantos invernos passou frio,

No verão seu suor brutou,

Eu nem liguei pro arrepio,

Sua mudança não me conquistou.

Tentou me chamar atenção,

Mas minha visão não sentiu apreço.

Talvez tenha falado,

Mas são tantas vozes,

Multidão de sons desarticulados,

Barulho aos meus ouvidos algozes.

Transmitiu sua simpatia,

Olho irritado, me aborreço.

Nem quando morreu,

Notei o corpo no chão,

Sua vida diante de mim arrefeceu,

Mas segui sem ter noção.

O espírito se desprendia,

Com olhar ateu nem assim me atrevo.

Chegou o momento que te vejo,

Só que não está mais presente,

Me resta uma memória em desespero,

A dor de um percebido ausente.

Tento eu me fazer ver,

Mas seu olhar pra mim é de desterro.