A Ave da Guerra
Minhas asas não são brancas,
Como a luz de um dia caloroso,
Nem tenho bater que abranda,
Sou mais um ser temido e odioso.
As asas são negras, petrolíferas,
O vôo afugenta os que contemplam,
Olhar de expressão fosca e não vítrea,
Não desejando que os ferozse se contenham.
Ninguém me soltará em comemorações,
Na a tragédias eu me liberto,
Afligindo os mais esperançosos corações,
O peito alvo, robusto e aberto.
Nem piar ou arrulhar, quero crocitar,
Sou um corvo funesto,
Sobre corpos vou me alimentar,
Faço germinar o medo.
Sou o símbolo das batalhas,
Ao contrário da pálida pomba,
Esta coitada impotente, plácida,
Percorro campos coalhados de bombas.
Fico parado feito monumento inglório,
Observando os que irão perecer,
Às vezes acompanho feito adorno mórbido,
Fitam meus olhos e sabem que irão morrer.
O cheiro das crianças mortas,
O choro das mães desesperadas,
O tiro seco do suicida que a vida ignora,
A rajada que ceifa muitos de uma vezada.
Os religiosos já fazem o sinal da cruz,
Os covardes desviam o olhar,
Sirvo-me do cadáver de seu messias Jesus,
Bico as órbitas dos que não conseguem se levantar.
Dou um beijo de morte,
Fazendo o vivo se destruir,
Acabo com a sorte,
A Fortuna comigo só faz ruir.
O que seriam dos carrascos sem mim,
Sem desfrutar desse gosto amargo,
Muitos se beneficiam por eu existir,
Surge um novo mundo deste que despedaço.
O som que emito não é do limbo,
Nem sou ave infernal,
É da Terra o sofrimento que produzimos,
Vocês criaram seu próprio destino fatal.
Sou o símbolo de sua ignomínia,
Em tempos mórbidos estarei presente,
Aos quatro cantos anunciando a agonia,
Amuleto de Ares erguido de forma pungente.