Olhar de Menino
Terrível aquela expressão,
Diante da tragédia, aqueles olhos,
Vista de quem está em depressão,
Tento não gritar e por isso me controlo.
Aquele menino está apavorado,
A face demonstra o seu estado de desespero,
Pessoas em volta devem ter notado,
Se fitam num breve momento sentem medo.
O pânico se faz num grito reprimido,
O que gerou a face oprimida foi esquecido,
Fica só o terror nos olhos daquele menino,
A prece ali não penetra por nenhum motivo.
Aprisiona nossa atenção com rosto férreo,
Violenta nosso vil bem estar, tornando-o flagelo,
Desespero que causa um branco no cérebro,
O pranto quase escorre com alguém sem gestos.
Pior do que Medusa, não apenas petrifica,
Reduz a um nada que inunda de angústia,
O eu parece que, de repente, despersonaliza,
Suas pupilas infestam-nos de pura fúria.
Me perco nesse olhar de abismo,
Me vejo ali ou não me sinto aqui,
Nos tornamos sósias em desatino,
Um espelho que só faz refletir.
O menino sou eu,
Eu, menino de olhar maduro,
Duro olhar que a infância perdeu,
Homem-menino que se vê em luto.
O menino perdido,
Surgindo no espelho dos olhos,
O adulto despercebido,
Diluindo por trás do olhar de remorso.
Nem homem, nem menino, só o olhar vazio,
Ou cheio de hiatos que o transbordam,
Lacrimejando temor sem causar sequer alívio,
Agora são meus próprios olhos que me olham.
Quanto mais mergulho dentro de mim,
Menos consigo perceber esse que sou,
O vácuo que se faz ainda é possível sentir,
Aflito, busco migalhas do que restou.
O olhar de um menino fantasmagórico,
Quando percebi, tornei-me fluídico,
O mais sólido que concebo é real-ilusório,
Está lá...
me fitando...
olhar de menino.