Cuspa na Minha Cara
Cospem-me a cara,
Escorre aquela baba alheia,
Pra uns é desgraça,
Pra mim não passa de besteira.
Sinto o catarro gosmento,
Grudado nas bochechas,
O cheiro de hálito nojento,
A umidade que goteja.
Se fossem mais certeiros,
Acertariam minha boca,
Num beijo de desprezo,
Sentiria o fel da pessoa.
O vento bate e fica frio,
Cusparada adesivada na fronte,
Sinto vontade de retribuir o rito,
Mas contenho o desejo ultrajante.
Recebo a escarrada passivamente,
Minha reação é não reagir, ignoro,
Desprezando a gosma aviltante,
Fitando o olhar do outro com ódio.
A cuspida é o último gesto de me desejar,
Jogando um resto de si que a mim apega,
A viscosidade eu depois com cuidado irei limpar,
Restará a memória daquele ato tirano de merda.