Dia das Mães
Então comemora-se o dia,
Dia das mães, mal qual delas?
São todas ou nenhuma que se deveria,
Pensar nessa data que o sentido desperta?
Existe o sentido social que implica,
Pensando no papel do feminino na sociedade,
Além de um fator de gênero que se principia,
Algo que explode com distinções de personalidade.
Mas essa “mater”, materna agrícola,
Associada a um fértil primitivo,
Ainda mantém traços de uma vida silvícola,
Busca essa gênese um sagrado princípio.
Mas e nos outros dias vividos?
Onde relegamos essas mulheres?
Violentadas por machos maridos,
Os filhos muitas vezes as esquecem.
Quantas Ísis deram seu peito para o rebento,
Depois do sacrifício tiveram o escárnio,
O bebê dependente, por leite sedento,
Depois de adulto se acha acima por estar desmamado.
Quintana fez poesias comparando-as ao céu,
Mais uma vez relegando-as a outro plano,
Precisamos aproximá-las, não como fiel,
Mas com sentimento de puro sentido humano.
Mistificar a mulher, já causou revoluções em outras épocas,
Depois do patriarcalismo, busca-se algo menos metafísico,
Devemos esquecer a dita postura correta como moral da ética,
É algo muito mais natural, a valorização do outro que me identifico.
A necessidade da mãe é vista nos animais,
Zelam pela cria por uma condição de espécie,
Existem abandonos que não são anormais,
É preciso que o rebento se desenvolva como deve.
Essa supervalorização tem algo muito menos lírico,
O desejo de fetiche que acompanha um consumo,
As mães se tornam objeto a ser vendido,
Mercadologizando-as, tiramos seu valor de uso.
Quanto vale uma mãe? Absurdo?
É possível estabelecer um preço,
Pois foi cotada, ainda com expectativa de juros,
O sentido de maternidade é simples adereço.
As meninas-mamães da “periferia serão felicitadas,
Quando gerar um bebê na miséria e não forem amparadas?
O filho chorando de fome sem uma assistência adequada,
É condenável o aborto diante de uma situação delicada?
As mães não são como as Marias de Cristo,
Elas não foram fecundadas por nenhum espírito santo,
Terão muitas vezes estúpidos maridos,
Depois de um tempo nem mais terão o privilégio do pranto.
Muita cautela com as “grandes datas”,
Costumam velar algo de sórdido,
A vida não é feita de suntuosas fachadas,
O dia-a-dia é muito mais sólido.
Anna Jarvis inspirou o mito,
A morte de sua mãe não foi especial,
Toda mãe morre, todos somos finitos,
Mas criou-se uma data de sentido surreal.
Era óbvio que se tornaria algo ainda mais esquisito,
O sentido dela era individual, específico,
Estendido a outros, se tornou algo presumível,
O aumento apenas fez a dissociação ganhar mais sentido.
Quão patética é a relação com data marcada,
Tão mecânica essa permuta de afetos congelados,
É um rito de um dia em forma de cilada,
Depois seguimos indiferentes ao outro, afetos apáticos.
Quantas mulheres não desejam serem mães,
Para pelo menos um dia poder ser lembradas,
É dessa forma que garimpam emoções,
Último refúgio de mentes tristonhas, frustradas.