Televisão

Inventaram a televisão,

Disseram que supera o rádio,

Mas a tela da ilusão,

Dilacera muito mais o imaginário.

Na telinha vem tudo mastigado,

Nem precisamos pensar,

Já vem pronto o programa fabricado,

Nem temos trabalho de raciocinar.

Temos a impressão de fluxo,

Parece que o mundo passa,

Mas é estático seu uso,

Nos engana num plano sem graça.

Vidrados diante daquela caixa,

Enquanto a vida vai se perdendo,

Achamos que o mundo está em casa,

Nos privamos de pessoas, sentimentos.

Queremos ser transportados para ela,

Quando conhecemos os bastidores,

Que decepção em relação à tela,

Tudo tão tocável, cheio de odores.

A tv nos dá a distância,

Aprendemos a ver o outro como outro,

Afastados com repugnância,

Vemos mortes e é tudo tão insoso.

Ao mesmo tempo existe o contato,

Um conhecido aparece na reportagem,

Nos sentimos próximos de fato,

Abstraídos por essa falsa viagem.

Da tela saem personagens, os artistas,

Quando conhecemos ao vivo,

Pretendemos que sejam como fora da vida,

E na falta, os transformamos em mito.

A vista vai sendo prejudicada,

Os neurônios consumidos,

As relações mais simuladas,

Rimos mesmo deprimidos.

Hoje ela se democratizou,

Dizem que quase todos podem ter,

Que triste, isso nos desumanizou,

Um dia voltaremos a ser eu e você?

Pais nem precisam de babás,

Deixam as tv's comerem o cérebro dos filhos,

As crianças nem conseguem chorar,

Se entretém como um rebanho mansinho.

Nos hospitais elas amansam os enfermos,

Nas vitrines conformam os sem teto,

Sua programação dura o dia inteiro,

Invade nossa casa e nos diz o que é certo.

Condiciona nossa visão,

Bem ao estilo Pavlov, domestica,

Temos crise de abstinência sem televisão.

Compramos pagando em vinte vezes, acredita?

Vamos deixando de ler, conversando menos,

É uma relação que um lado só age,

O outro capta, feito num Matrix vivemos,

Cobaias sugadas até que isso nos mate.