O que de certo só tem a incerteza
Eu sou uma vela que ninguém acendeu
Uma sombra que onde ninguém descansou
Eu sou uma alma que há muito se perdeu
Por esse mundo que alguém arquitetou
Com suas regras de difícil compreensão,
Eu sou aquele que de querer, nada sobrou
Eu sou uma ponte com blocos de solidão,
Um peso que esmaga por ter tanta leveza
Alguém que ficou a mercê de toda paixão,
Que encontrou o riso embrenhado na tristeza,
Descobriu o sim debaixo de variantes Nãos,
Eu sou aquele que de certo só tem a incerteza
Sou o desejo de ser apenas um pensamento,
Sem vida, sem esse corpo, sem essa clareza,
Que me invade os vazios, fere o Sentimento
Que se esvai a cada dia, a formar correntezas
Em turbilhões de milhões de meus tormentos,
A me diluir em vasos de volumosas incertezas...