Sorrateira como a cobra medonha,
Como Judas que indicou o caminho.
Deixando claro seu objetivo e barganha
Delatar tudo, indicar cada revolucionário.
A boca da noite me falou arrogante
As ruas estão cheias de criaturas
Revirando lixo, debaixo das pontes.
Todos sem rostos e sim caricaturas,
Sem alma, sem sorte e sem biografia.
A boca da noite me falou de crianças
Entre os abandonados nas ruas escuras
Sem pai, mãe, sem rumo e esperanças.
O que aconteceu com todas estas crias
Parecem de papel e com almas vazias.
A boca da noite me falou de prostitutas
Que vendem o corpo entre os açoites
Por pequenos trocados entre disputas.
Todas largadas para trás por descartes
Sem um futuro natural, sem petição.
A boca da noite me falou de errantes
Criaturas sofridas, feridas, olvidadas,
Jogadas nos cantos, todos pedintes.
O que fizeram estes pobres mortais
Pra viver sem razão nestes currais.
A boca da noite sussurrou nos ouvidos
Falou da miséria e da fome que mata
Dos desempregados e dos desvalidos.
Todos sem uma direção e opção certa
Presos aos sonhos de promessas políticas.
A boca da noite me falou sincera
Quem são estes revolucionários
Que não reagem, não tem garra.
Deixam tudo acontecer sem prélio
Cadê os cavaleiros templários.