Preto Velho
Encostado no barranco a se esconder do sol,
o preto velho contempla uma nuvem que passa,
então abre o seu velho e surrado embornal
e tira dele um litro, pelo meio, de cachaça.
Enche o coité e bebe uma golada boa,
faz uma careta e cospe para o lado,
e se deixa assim, recostado e à toa,
triste e cabisbaixo relembrando o passado...
Segue pela poeira da estrada da fazenda
onde a vida inteira sua força empregou,
vagueia pelo engenho, vislumbra a moenda
onde tantos amarrados de cana triturou.
Depois espreguiça, fecha os olhos e canta
uma cantiga arrastada que o arrasta ao sono,
esperando aquela que a negra foice levanta
pra levá-lo, enfim, de seu triste abandono...