Resposta a tempo (vó)
Ontem, miseravelmente, aflita e agoniada
Buscava o revide, implorava um contra-ataque
Por essa alma maldita – imposta-me por um alguém - não sei quem -
Indicando-me passagens minúsculas e perigosas
Pelas madrugadas gélidas e enevoadas
- É esse o preço a pagar?
(Perguntei mesquinhamente dorida)
- Esse mundo a mim foi aludido
Encontra-se pobre e desamparado
Um misto de estilhaços podres entrecortados
Não vê? Fizestes um mundo apartado
Perderam-no sozinho e tristonho
Hoje, responde por Renegado
Ouve! Ainda há dúvidas soltas e espalhadas
Simploriamente deixadas de um outro lado
Foi quando zuniu:
“- Eis os fragmentos e as sobras
Os restos das vias e das valas
Enlaça tuas regalias - serão somente essas -
Não espera mais nada”
- Mas logo eu
Um ser tão diminuto
Ausente de fé religião parentesco ocupação
Batizaram-me ponto confuso
Denominam-me frágil e carente
Além, de deveras doente
Caí sobre a cama
(Infame é a pergunta que não cala!)
- É esse o preço a pagar?
Por desfrutar dos brados alheios
Suplícios que nem são meus - doeu -
Por comprazer-me em páginas vazias
Pautadas e, a mim, destinadas
- Que esperas de mim?
(Antes, por favor, dá-me um copo d’ água!)
Mais próximo ecoou:
“- Às vezes resposta não vem
Pode acontecer de vir devagar
Pensas que não as tem
Por não existirem
Quão indolente tu és - saiba, conheço-te bem!
Resposta espera hora e
Merece lugar.”
Nesse momento rente ao final
Uma senhora idosa e intrusa
Pairou na minha frente e ecoou quase inaudível – pude escutar –
“- Tola não há valor
Tola não se avalia
Carrega contigo o que é teu
Não te ausentes
Nem mascare a tua dor!”
(Apressei em perguntar)
- Vó!?
Arregalei-me diante de seus olhos negros e úmidos
Fitando-me através dos meus bem encharcados
Acuados porém, despojadamente, não desviados
A idosa e intrusa fincou pé, não arredou
Espaçou-se diante de mim
Então, num gesto longo e acalorado, acudiu-me
(Eu sorvida aos pés de um momento tão vil quanto ordinário)
Ao minha face secar
Desfrutei de seu afeto plácido e delicado
Em seguida ela, grandiosa, meus cabelos, pôs-se a embaraçar
(Suspeitei, claro, sou feita de dúvidas!)
- Logo eu acarinhada?
Essa a quem chamam desnorteada
Afligem-se só com o meu formato
Quieto, calado e apaziguado
Foi quando em obediência a seu mandado
Repousei minha cabeça sobre seu colo e
Adormeci quieta, retraída e amparada
Hoje, dentre a manhã ensolarada
Alguém gritou, do lado de lá, da minha calçada
(Sórdida e levianamente banalizada)
“-Toma!
Não era esse o momento postulado
Vem e aprazia-te
Eis - em minhas mãos - tua resposta
Agora segue teu caminho
Não te afugentes
Compõe-se eficaz
Assenta-te e varre o mundo
A ti, miseravelmente, ofertado
E, ao mesmo tempo, carecidamente sangrado”.