ENTREGO MINHA VIDA

Roçando pelas paredes, que, vergonha,

me trazem, de uma casa, que, a este

momento, de harmonia, compor-se devia,

esmurro violentamente o cinzeiro,

jogando-me, de encontro ao peito

da porta, de meu quarto, que, sossego,

não tem nem nunca terá.

Cortando os pulsos, num segredo só meu,

líquido escorre, de minhas veias. Já nem

com sangue se parece, o que, ao chão,

gota a gota, vou deixando, em puro veneno,

o que um dia trouxe, para dentro desta casa.

O sacrifício, só a mim pertence, culpado

de vícios, que perduraram no tempo, por

anos e anos, de preocupações e desgostos,

que, para minha tristeza, depois da

luta, por mim vencida, como um qualquer

vírus maligno, noutro corpo querido,

resolveu instalar-se, deixando-me sem armas.

Digno de mim e dos meus, assim queira ser

lembrado, nada por mais, me resta, do

que aceitar, este derradeiro gesto, entregando,

minha vida, com total humildade.

E qualquer mal, que ainda persista, porque há

coisas, que não se esquecem, de uma vida

inteira, roubada a liberdade e o bem viver,

de quem se viu obrigado, a passar, por tudo isso,

adquirindo hábitos, para apaziguar a sua dor,

e, ao que viu, nova manhã surgirá.

Porque, enfim, justiça se fará, e, eu, ao mais do

que merecido castigo, me hei-de sujeitar.

Jorge Humberto

08/03/09

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 09/03/2009
Código do texto: T1477584
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