madrugada fria
meu grito vira gato
vai pelos telhados
arranhando sua ausência.
a lua,
em todo seu esplendor de brancura,
se apaga ao tocar a geada que cai em meus olhos.
viro gelo seco ao toque das estrelas
um perfume de alfazema vai ao seu encontro,
enquanto evaporo entres as rosas murchas.
viro sapo e inflo o peito
um efeito sonoro sai meio sem jeito,
rebate na lua, dá na estrada insegura.
toda a arquitetura
traz evidências de que a rota escura
é minha única clareza.
o vento vai levando o que ainda resta
o vento varria folhas secas, cinzas, beijos secos, abraços frios, a poeira do brilho apagado de seus olhos. o vento trazia, por avisos repentinos, grito seco, acre: "não dá mais!". o vento vinha, não como era quisto, vinha voraz, tempestuoso, criando redemoinhos no caminhar só. o vento suspirava ilusão de gemidos de prazer, suspirava estralar de lábios pós-beijo. o vento vinha violento romper o não-pacífico. o vento rosnava feito fera acuada, em minha jornada tão mais sombria. o vento vinha como sopro de agonia sobre a ferida aberta sangrando "acompanhia". o vento nocivo se dizia preciso, cumpridor de destinos, levava longe qualquer longínqua intenção de volta.