A SOMBRA

A sombra

(13/11/2015)

Assim foi que um belo dia,

Belo e claro quanto um não,

Me trouxe numa das mãos

A sombra à meus outros dias.

Apontou atos insanos,

Renegou olhos carentes,

Amaldiçoou minha bebida,

Tornou ásperos meus dedos.

Importou-se como nunca

Com a barba por fazer,

A roupa que ousei escolher,

O tanto de sal, ou de açúcar.

Achou forte meu perfume

E fracos os meus queixumes.

Sequer roçou em meus lábios

O desejo de noite boa.

Sem ligar para meu sono,

Se sonho ou se pesadelo,

As mãos, aquelas, negadas,

E o corpo já sem desejo,

Me disse, sem me dizer,

Que aquele tempo passara.

Que o tronco daquela árvore,

Se cobrira de pragas e musgos.

E, verdade, havia outra árvore 

Mais cor, mais flor, e alegria.

E mesmo em constrangimento,

Meu espaço ocuparia.

Sem nome qualquer,  

Algum?

Sem gênero sequer,

Nenhum?

Apenas um'alma inquieta,

Que da minha, esgotada,

Partia para outras viagens,

Outros sons, cores, e sonhos

E aqui estou, acordado

Noite alta, em silêncio 

Tentando escolher o certo.

Se me deito, e pra que lado?