[das epifanias na Praia do Pontal nº 4]

Mesmo que o sol nascesse na última luz da aurora

e os pássaros do céu caíssem e o mar virasse seus túmulos

e o acúmulo de dívidas fosse pago somente com amor

E o calor das horas desperdiçadas

se tornasse o frio do teu toque

e o estoque de bebidas pra curar tua ressaca

finalmente acabasse

E o horizonte se tornasse só mais uma linha finita

E eu enfim esquecesse

que a cor dos teus olhos é a mais bonita

 

Fosse o teu olho a minha janela da vida

e a ferida aberta, mais rápido fechasse

E de caos eu não mais entendesse

E o fim do túnel nunca chegasse

Mas a luz do fim acendesse

 

E fosse água o que era antes areia

E a nossa sentença de morte se equivocasse

e só por mais um minuto,

na mais pura sorte,

eu me regozijasse em cada suja centelha

 

Ainda assim, dentro do teu não instante,

meu corpo ausente

se faria berro no teu silêncio gritante.

Elizabeth Gomes
Enviado por Elizabeth Gomes em 20/02/2023
Código do texto: T7723380
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