[das epifanias na Praia do Pontal nº 4]
Mesmo que o sol nascesse na última luz da aurora
e os pássaros do céu caíssem e o mar virasse seus túmulos
e o acúmulo de dívidas fosse pago somente com amor
E o calor das horas desperdiçadas
se tornasse o frio do teu toque
e o estoque de bebidas pra curar tua ressaca
finalmente acabasse
E o horizonte se tornasse só mais uma linha finita
E eu enfim esquecesse
que a cor dos teus olhos é a mais bonita
Fosse o teu olho a minha janela da vida
e a ferida aberta, mais rápido fechasse
E de caos eu não mais entendesse
E o fim do túnel nunca chegasse
Mas a luz do fim acendesse
E fosse água o que era antes areia
E a nossa sentença de morte se equivocasse
e só por mais um minuto,
na mais pura sorte,
eu me regozijasse em cada suja centelha
Ainda assim, dentro do teu não instante,
meu corpo ausente
se faria berro no teu silêncio gritante.