O MARTÍRIO ACORDA SEM O AMOR

O MARTÍRIO ACORDA SEM O AMOR

 

Cada vez que o martírio acorda,

Nós sentimos quão frágil somos,

Pois a forca se mostra na corda,

E julgado, nem sirvo aos pombos.

 

Cada etapa da vida de escravo,

Tem a dor das correntes em nós,

Ou a gota que teima ser cravo,

Como ecos em crânios à sós.

 

Faz lembrar do Mercado Modelo,

Ou sob os fortes à beira mar,

E as gotas que vêm como selo,

Na tortura ou sadismo que há.

 

Fica o choro de quem é o fraco,

Pois um forte só quer gargalhar,

E nós somos o resto do contrato,

Entre a Côrte e o povo a bradar.

 

Só por isso é que há a direita,

Onde os nobres estão com o Rei,

Pois me sobra ficar à esquerda,

Onde os servos se pagam na lei.

 

E quem pensa que nunca foi isso,

Veja a história francesa ao ler,

Pois foi sempre desde o início,

Dentre tantas nações com o poder.

 

Sempre houve a nobreza e o resto,

Pois assim se desculpa ter dor,

Como fosse dizer que não presto,

E nos diz que foi Deus que mandou.

 

Realmente, eu espero outro fim,

Pois não creio na lei de Talião,

Desde quando meu Deus é sem-fim,

E vem dele o amor e o perdão.