GRITOS
No ranger da noite
Bocas pretas
Turbilhão de mágoas
Deserto de campos
Abertos.
Caravanas foram
Extintas
A brisa do mundo era
Labaredas
De ferro a fogo fino.
Das fontes de águas
Límpidas
Turvaram o amor
Deslizaram terror
Deceparam as belas
Almas de Hiroshima.
Mutilaram a vida
E o inferno era a única
Porta a se abrir.
Severos desgraçados
Regam sangues
Sem piedade
Não permitem combate
Só a solidão
Sombrea
Corpos mosqueados.
Os Deuses do mundo
Do faro da navalha fria
Capacetes
Em ocas cabeças
Arrogância infalível
Desses míseros poderes
Em decomposição.
Tetas de leites tóxicos
Embolaram as línguas
Das crianças famintas.
Dos dias escuros
Claras faces feridas
Em peles cinzentas
Lamaçal de sangue
Dores infindas.
E as rosas se calaram
Secaram os espinhos
Murcharam as pétalas
Não mais exalaram
Seus odores
Em frios túmulos
Dilacerados.
Ah, matilha de
Abrolhos
Nos errem
Estamos fartos
Dos seus atos
De semideuses.
Daniel Gomez.