UM VULTO NA ESCURIDÃO
I
Quando eu mais precisei
Jogaram-me lama
E não me sujei.
II
Fiquei manchado pela dor
E nunca reclamei, chorei
Hoje sou vida em graça.
III
Ah! Tu não podes me alcançares
Porque tu te denuncias dia
E hora marcada.
IV
Nas vielas em poeira
Becos encharcado de lixo
Onde cães não lambe os teus passos
E nem se contaminam com restos
Por seres tu o grito angustiado
das neves em socorro.
V
Abafada pela tênue tortura de porta fechada
És vítima da solidão que te cobre de graça
És ladra da tua consciência
E morres no pensar
Que nem Santo Antônio
Suporta escutar
Na capela da senhora
Tudo é pedra
Da igreja matriz
És folha seca
Mulher das sombras
Perdida sempre estarás
Vagando em negro pasto.