Hoje eu te vi passar.
Hoje eu te vi passar. Indiferente.
E eu quis sumir.
Demorou 10 dias pra eu entender que acabou.
37 pra eu consegui passar um dia só sem chorar por ti.
126 pra eu conseguir comer um bocadinho de Shimeji. Me diz: ainda é tua comida preferida?
Eu gostava tanto de Shimeji.
Levei 215 dias pra conseguir conversar com outra pessoa já sabendo das segundas intenções dela. E me machucava ver que não era você.
372 pra esquecer seu cheiro. Aquele maldito cheiro.
Eu não quero lembrar. Eu apaguei você.
E teu cheiro?
Eu sei lá do teu cheiro.
E de como o Mundo tem te respirado pelas vielas em que tu passas.
Mas, se eu morrer agora, nesse cruzamento movimentado em que eu me coloquei plantado - como se fosse um carvalho milenar -, ou se, eu sei lá, essa corda áspera resolver enfim me apertar a glote, a epiglote, a traqueia e tudo o que há, eu preciso que você saiba: eu esqueci você.
Que hoje, depois de tanto tempo do nosso último beijo - que se eu soubesse que seria o último, o teria feito quase que interminável -, depois de tantas bocas, eu posso te afirmar - com toda a certeza desse mundo - que eu nunca senti um arrepio tão bom quanto aqueles que você me causava enquanto sussurrava sobre amor no meu ouvido.
Que nenhum poema superou o nosso - já acabado - amor. Nem mesmo Drummond, Quintana ou Bukowski. Muito menos os meus, ridículos que só. Muito menos esse - que, para a literatura, sequer tem as características para ser considerado como tal - que te escrevo agora.
Se o amanhã não chegar, preciso que saiba que eu esqueci você. Mas que depois de você, eu não amei mais ninguém. Talvez por medo de me entregar. Talvez. Ou por não querer nem mais tentar. Quem sabe seja por dó. É, dó. Em sentido estrito. Dó de ter que desistir de nós (que, veja, já nem existe mais, como você bem quis e soube fazê-lo). Veja, meu bem, será que você entende agora o que você foi - e ainda é - pra mim? Mesmo depois de tanto tempo. Você entende?
Hoje eu te vi passar. Indiferente.
Mas eu não lembrei do teu cheiro.