E ME PEDES CALMA?

Calma!

E me pedes calma?

Se a calma me foge

a um simples olhar

que me endereças,

como se fossem teus olhos

luzes estroboscópicas

dos carros de polícia

intimando-me a parar

e entregar-me de mãos ao ar,

preso em algemas

de submissão e desejo.

Calma.

Ora bolas, invente outra interjeição!

Não me venhas acenar com comandos

impossíveis de serem atendidos,

com ordens que me esfacelam os sentidos,

negando-me o que prometes,

enquanto trafegas pelos viadutos

da provocação e da luxúria,

em noites escassas de gozos,

estepes desertas de entregas,

paraísos perdidos

nunca antes habitados. . .

Calma!

E há outro remédio?

Vazias as cartelas

de tarja preta,

gastas as páginas

do livro de poesias

de Baudelaire,

secas as últimas garrafas

de vinho barato,

nem a mais leve esperança

de que faças nascer flores

entre os meus lençóis.

Calma!

Enfim, só me resta ter calma. . .

- por JL Semeador de Poesias, na manhã de domingo, 07/12/2014 -