NINGUÉM TEM A DEUS

NINGUÉM TEM A DEUS

A humanidade quer ter tudo,
E mesmo a Deus que o criou,
E bota as falas no mudo,
Querendo o que nem sonhou.

Nós não criamos o mundo,
Mas somos capazes de ver,
Bem mais do que seja fecundo,
Na flores de um bem querer.

Ninguém tem a Deus e o etéreo,
Pois ser criatura é assim,
E viver sem Deus é mistério,
Que deve ter cura no fim.

O dono é Deus e não nós,
Pois dona da areia é a praia,
E não mando em Deus, nem a sós,
Se Deus é quem diz: Entre ou saia!

E assim, chego ao meu conviver,
Pois não sou sozinho na vida,
E nunca vou sobreviver,
Se não há caminho e guarida.

Somente devo agradecer,
Pois Deus já me deu a medida,
Sem mais pra pedir ou vencer,
Mas sim conviver toda vida.

Não sou ermitão, quer saber?
Mas sou a fortuna contida,
Pois crio meu jeito de ser,
Por não ser só fera ferida.

Por isso perdemos instintos,
E todos sentidos são nada,
Se não tenho apego distinto,
Ao meu sentimento que fala.

Eu enxergo estrelas e sóis,
No meio de bichos vendados,
Pois crio os meus girassóis,
Além dos planetas contados.

Por isso é Deus que me tem,
E me permite sorrir e sonhar,
Permite que eu seja seu bem,
Num valor além de um lugar.

E assim a matéria condensa,
E a luz surge das nebulosas,
E o homem é força que pensa,
E faz jus se quer ser resposta.

Mas se não aprende a viver,
Vai ter que pagar a aposta,
Porque a derrota é não crer,
No segredo até de ser hóstia.