Poema – Pilatos
Poema – Pilatos
Fui na infância, como um rato
Se escondendo em esgotos
Nunca me amaram
Como amaram as outras crianças
Tampouco me ofereceram um único abraço
Todas as minhas angustias, eu vivenciei sozinho
Invejei aos outros
Que eram capazes de sentir
O que chamavam de carinho
Mas me ofereceram
Tapas e socos
Até que a minha necessidade de amor
Se transforma-se em ódio
Odiei a mim mesmo
Por ter nascido neste mundo
Me tranquei em um cantinho escuro
E ali vivenciei toda a minha vida...
Implorei para que Deus
Me oferecesse o seu perdão
Mas ele era como os outros...
Via em mim todas as dores do mundo
E o inferno em meus olhos
Mas o Diabo me acolheu em seus braços
E me ensinou a escrever Poesias
E através delas eu me mato
Todas as noites
Ah...
O que eu não daria,
Para parar de escrever?
Tirar de dentro de mim
Estas angustias
E viver uma vida normal
Sentar com os outros
E gozar dos devaneios da vida
Mas há em mim tanta escuridão
Tanta dor escondida na minha alma
Que transbordo em lágrimas
Todas as vezes
Que eu sou obrigado a viver
Vivenciei nesta vida
Os mais terríveis horrores
Me lancei em meio a podridão
Com um punhal em minhas mãos
Dilacerei o meu corpo
Até que todas as tripas
Fedessem enxofre pelas calçadas
Rasguei a minha pele com as unhas
Gritando em catedrais repletas de santos
Cai de joelhos em meio as baratas
Com feridas por todo o meu corpo
E quando me olharam nos olhos
Me negaram um único abraço...
Então eu abracei a escuridão
Que vivia escondida
Nos escombros do meu coração
Me levantei repleto de sangue
Sorrindo como Judas
Ao ver cristo sangrando na cruz
Pela primeira vez me senti como Pilatos
E Lúcifer em uma orgia santa
Vivo!
Como se todas as outras versões
Minhas estivessem mortas
Sou hoje
O espirito imundo
Que vocês me transformaram
A ferida pecaminosa
Nas mãos daqueles
Que açoitaram cristo por puro prazer
Porque perceberam em suas almas imundas
Que não haveria salvação
Para aqueles que não fossem como os outros
Estou hoje fadado!
A ser quem eu sempre fui
O homem em meio as lágrimas de cristo
Com o açoite nas mãos
Fazendo-o sangrar
Para libertar de si mesmo
A sua própria escuridão!
- Gerson De Rodrigues