História de Grande Amor
I
Contar-vos-ei um segredo
Com fantástico enredo
D’ história de grande amor
De amor puro e verdadeiro
Foi no século primeiro
Quando eu era pescador.
II
Cheguei a Cafarnaum
Humilde como nenhum
Nem sabia o que era fé
Não tinha crença segura
Na busca por aventura
No Mar de Genezaré.
III
De tudo quanto relembro
Creio ter sido em dezembro
No lago muita incerteza
Pois quase não tinha peixe
No entanto nenhuma queixa
Daquela extrema pobreza.
IV
Quando conheci João
Bartolomeu e Simão
E outros que a história fala
Conheci também ainda
Uma mulher muito linda
Provinda de Magdala.
V
Procurando por prazer
Meu sonho era conhecer
Salomé em Jerusalém
Diz que tendo boa soma
Quem tem boca vai a Roma
Corre mundo e mais além.
VI
Certo dia apareceu
Estranho jovem judeu
Mais humilde que andarilho
Ninguém sabia seu nome
Uns afirmam “ecce homo!”
Outros que era o próprio Filho.
VII
Tempestade em certa noite
Ventos fortes dando açoite
Pavores, medos e mágoas
Nossos barcos em perigo
Eis que aquele novo amigo
Surgiu acalmando as águas.
VIII
Noutra oportunidade
Com seu olhar de bondade
O vi curando um cego
Um aleijado, um demente
Confortando a tanta gente
Impressionou-me, não nego.
IX
Quando pescadores vários
O seguiram sem salários
Eu recusei o convite
Ao Mestre não dei ouvidos
Fui por caminhos perdidos
Não aceitando palpite.
X
Andei vagando no mundo
Andarilho e vagabundo
Preferindo ociosa vida
Mas o tempo um dia cobra
Com juros a tua obra
Surgem dores da ferida.
XI
Coração pouco valor
Na trilha do desamor
Consome as horas vagas
No tempo que era moço
Cheguei no fundo do poço
Num corpo cheio de chagas.
XII
Alma acorda num momento
Cheia de arrependimento
Quando tudo dentro arde
A Boa Nova aconselha
Não se perderá ovelha
Para Jesus nunca é tarde.
XIII
Noites, dias pavorosos
Lá no Vale dos Leprosos
A nova chance conquisto
Envolto em claridade
Sereno olhar de bondade
Disse ao chegar Jesus Cristo:
XIV
“Aquele que crê me chama
Quem do fundo d’alma ama
Tem coração e consegue
Tereis oportunidade
De conhecer a verdade
Levanta-te então me segue!”
XV
Minh’alma que tanto erra
Joga meu corpo por terra
A beijar suas sandálias
Quando me senti curado
Pelo Mestre muito amado
Fui redimir minhas falhas.
XVI
Conto como aconteceu
O meu corpo estremeceu
Ao sentir a graça pura
Cristo colocou a destra
Por sobre a minha testa
Assim procedeu a cura.
XVII
Eu disto sou testemunha
Quando Cristo mãos impunha
Por sobre cada pessoa
Do fundo do coração
Sua vontade em ação
Emana energia boa.
XVIII
Entre os primeiros quinhentos
Partilhamos bons momentos
Doçura de seu carinho
No cristianismo nascente
Quem era deveras crente
Foi seguidor do Caminho.
XIX
Quem sentiu a Lei de Amor
Tornou-se trabalhador
Da Boa Nova do Mestre
Aquele que amar e crer
Quando outra vez renascer
Ganhará graça celeste.
XX
Por todo porvir contemplo
As lições de seu exemplo
Pleno de amor e de luz
Fui depois Frei franciscano
Porque desde aquele ano
Professo a fé com Jesus.
(Frei Tas é meu heterônimo medieval)