DIAS VIVIDOS EM TEMPOS SOMBRIOS
Lágrimas secas, gargantas sedentas, pele ressequida, ossos fragilizados, olhares distantes mirando o que ainda resta pra se ver num horizonte encurtado pela expectativa da vida que a cada segundo avança medindo seu final.
Não mais alaridos do expressar, pois as palavras de agora soam como preces elevadas ao céu, com mansidão e espera, colocando assim, as mãos ajuntadas ou postas sobre o peito feito devoção do dizer da incansável crença.
Oração de saudades, de gratidão, de solidão e de fé.
Sim, de uma fé agigantada, inabalada com a certeza que essa crença elevará o caráter do perdão, como uma tábua de salvação num mar revolto pelos dias passados e pela vida arrastada em cada passo dado nas trilhas do hoje, já tão cansado prosseguir.
Por muitas vezes, se traz as lembranças dos açoites das gélidas noites em fúrias de ventos velozes cortando a pele do rosto a castigar o corpo inteiro sem proteção se quer de um cobertor para amenizar o frio.
Lembra saudoso dizendo:
Em outrora, Já tive cama quente em noites aquecidas, mas meus filhos me puseram num asilo e por lá me esqueceram sem nunca mais retornar. "Eu sei que velho dá trabalho, mas também ainda pode dar e receber amor" nem que seja simplesmente por um gesto de gratidão.
Lá onde me jogaram como se eu fosse um pacote qualquer, outros recebiam visitas, menos eu e mais meia dúzia de esquecidos por aqueles que um dia estes tantos protegeram com suor e lágrimas.
Eu não tinha quem me visitasse, eu não tinha para quem sorrir, pois ninguém me dirigia um gesto de carinho e nem sorria para mim. (ELES NAO TINHAM CULPA DA SUA DESGRAÇA ) assim pensava.
Assim, num descuido da vigilância, entrei num tonel de lixo e foi por ali que escapei daquele lugar, livrando-me de um sofrer que nao fora causado por mim.
O frio das ruas ou acaldeira do inferno, seriam melhor para mim pois eu estaria liberto do desprezo que me deram em troca do meu labor de cuidar de tantos.
Enquanto meu corpo suportar, terei as ruas como lar da minha vida, ou do tempo que ainda me resta viver.
Carlos Silva.