ARAUCARIAsolitaria
eu sinto que alguma coisa acon tec e.
bem aqui no fundo.
eu não consigo entender o que é e por que existe.......
mas sei que está aqui
escondido
mancomunado
às vezes eu tento me concentrar nesse
sentimento
para tentar entendê-lo ou pelo menos saber o que ele é mas sua força é muito maior que a minha razão.
dói
machuca
corrói
falta-me o ar
as minhas pernas ficam bambas
até o meu espírito sai do corpo
retorna....
. . . e sua volta me causa mais aaa
afli
ção.
tento dar nome
descrever
apontar
citar
soletrar
e a minha -- razão -- sempre me derruba e me joga numa
lagoa branca de incertezas
não consigo ver nada quando imerso
os meus olhos doem ao afastamento solitário das minhas pálpebras
meus braços e pernas travam como que em câimbra
meus pés ficam gelados
nada a perceber
tudo a sentir
tento submergir para tentar
respirar
mas a gravidade não me permite
tento levantar da crueldade dessa lagoa branca
as tentativas são em vão
puro e tenebroso vão
não consigo enxergar
nada
estou de olhos fechados
meu corpo é uma pedra
nenhuma força centrípeta consegue fazer a minha massa se elevar à superfície
estou cá abaixo sem respirar sem pensar
apenas sentindo o peso que sou
e sentindo o que causo naquele pedaço do mundo
se sou uma pedra e peso causo uma força indesejada a algum lugar
mas não sei onde estou e não quero e nem preciso saber
apenas sinto não sei o que nem porquê apenas sinto
ocupo um lugar no mundo no fundo de uma lagoa branca inteiramente branca e
gelada
sinto gostos d i f e r e n t e s na minha boca
meu hálito é
indefinido
assim como a minha vida
sinto que suo e muito intensamente muito incessantemente muito ardentemente muito fugazmente muito verozmente
a cada par de segundos
gotas jorram dos meus poros e se vão
essas gotas salgadas vão se somar à imensidão dessa grande água branca que não consigo ver
a única certeza que tenho é que
não sei o que sei
e não sei nada
porque nem ao menos onde estou
e sozinho
não há ninguém
todos se foram
só restou uma pessoa que gentilmente resolveu me fazer companhia
companhia solitária mórbida
não a reconheço tristemente ou de passagem porque não a reconheço
gra d u a l m e n t e
sinto a tem
p
e
r
a
t
u
r
a
cair
é uma queda gostosa fresca aconchegante
ela me toma em seus braços afável acolhedora
quase que diz no meu ouvido mas prefere ficar calada
não sinto frio tampouco calor
apenas a água gelada em contato com meu rosto
seco e áspero
ela se comunica com minha boca e meu nariz
ela entra e se despede c o n t i n u a m e n t e e e
sua visita é amorosa e dolorida
a passagem é brusca e
infiel
vai embora
acompanhada pelo suor da minha nuca
a sua saída é tão ..
solitária ..
. . . quanto sua chegada
a minha boca não se mexe meus braços e pernas estão gelados a vida é um fenômeno que desconheço e se conheço não sei de onde nem como a minha presença no mundo é muito delicada são gotas de
esperança
com pitadas de d e seq u ilíbr
io
não consigo me recordar de mais nada do que supostamente vivi
a única lembrança é o que vivo
uma imensidão branca
, sem cheiro,
, sem vida,
,sem gosto,
, sem afeto,
sem filhos, sem
não consigo me perguntar o que é aquilo porque não sei se posso me perguntar algo
a indefinição é suprema
absolutismo irreversível de uma causa
a solidão é o pior veneno à humanidade