Ciúme
O ciúme não constroi, apenas destroi
Não é benigno, apenas do mal
Não traz nada bom, apenas maldade
Ele é cruel, mas nunca fiel
Ciúme corrompe, amarga e irrompe
Faz muros erguerem, separa, maltrata
Ele é egoísta, só pensa em si próprio
E não se mistura, é o egoísmo
Porque o ego só vê o umbigo
Não permite o relacionamento
Por mais saudável, puro e sincero
Ele não se perde em detalhes pequenos
Se alguém lhe falar que tem ciúmes
Porque lhe tem amor, cuidado, ele mente
Pois o amor é benigno, em tudo acredita
E não desconfia, não fica descrente
O ciúme é doença, que come por dentro
Tal qual um verme, destroça e mata
O que é cumplicidade se torna um lado
Unilateral no relacionamento
Como o egoísmo, só pensa em si mesmo
Pois eu sou eu mesmo e você é meu
Você não pensa, não fala, não vive
Pois vivo eu, apenas existo
E o que é meu é somente meu
E o que é seu já não é mais
Agora sou dono de todo seu ser
Do que pensa e do que possui
Não tem por direito falar com ninguém
Apenas comigo, detenho o poder
E se comigo não se relaciona
Também com os outros, isso não permito
Eu quero escutar o que tem a falar
O que lhe falaram e o que foi discutido
O que foi trocado, e compartilhado
Não pode ao menos nem mesmo pensar
Eu não permito que fale consigo
Sou o domínio de todo existir
É todo meu, não pode sentir
Ao menos sofrer, não tem o direito
Eu sou o orgulho, toda a prepotência
Sua vida é minha, e eu lhe domino
Eu não aceito qualquer convivência
Além desta minha, cruel e mesquinha
Eu quero falar a você quem eu sou
Pois não é segredo desde a criação
De todos os homens e dos sentimentos
Dos vivos, dos mortos, de todos feridos
A mesquinharia de todo o mundo
O ódio e o rancor, a casca da ferida
O sangue, o pus, toda a inflamação
Eu sou todo o fim da imensidão
Destruo o que há, estrago se existe
E não me envergonho, pois sou a imundície
Não tenho pudor, o descaramento
Exponho minha face sem mau sentimento
Eu não permito que haja amor
Entre mãe e filho, neto e avô
Não quero ao menos que haja diálogo
Eu não aceito qualquer bom sabor
Mas que não pense que eu te amo
Porque te assedio, e sempre vigio,
Eu não sou o zelo, que cuida, protege
Mas dá liberdade, pois o livre volta
Eu sou diferente, eu já não dou asas
Não quero que voe meu pássaro de estimação
Eu corto suas asas, te prendo em gaiola
E te alimento com minha ambição
E te dou água sempre que tem sede
Não de sua vida, a mim me pertence
Só quero que aceite, e que compreenda
A minha loucura, o meu ser demente
Que não acredita na tal liberdade
Então eu te ligo e sempre procuro
Eu quero saber onde está e o que faz
Eu sou inseguro, sem saciedade
Mas eu não me importo se insensatez
É o que me move, eu não me preocupo
Nem ao menos penso se embriaguez
Tem meu coração, eu não o culpo
Porque sou assim, insano e frequente,
Eu sou persistente, pois eu alimento
A minha carência eterna e doente
De me controlar, pois não me sustento
Eu sou vazio, eu não tenho fundo
Logo não me encho, eterna labuta
Eu sofro pra sempre nesta minha luta
Eu sei não produzo, em nada fecundo
Porém não importo se eu sou estéril
Para que somar se eu sou destruir
A minha sorte, do outro, azar
Eu me satisfaço com meu existir
Ninguém compartilha os seus bons momentos
Pois sou o egoísmo, orgulho e vaidade,
Tudo para mim enfim coexiste
Eu sou o centro de tudo que existe
E se você quer me ter para sempre
Pense em si em todo momento
O resto ignore, domine, sem medo
E me alimente com seu atormento
Meu nome é ciúme, doença ou tumor
Não importa mais nada, eu sou o rancor
Das pessoas eu quero tudo dominar
Não posso perder, mas sempre ganhar
E não importa se alguém concorda
Com o meu método tão discrepante
Se alguém com esta tese se identifica
Tenha-me consigo: eu sou sua zica!