Consêio de puéta



Sabe meu Fio, consêio de pai véio
Inda más sobre puesia: é reza braba!..

É coisa qui só rezadêra di costado
Tarvez ti possa dá. Más este véio,
Mei simvirgonha , mermo avejádo,
Tentará ti passá:

A puesia é muié tinhosa
Vem cum cherim de rosa
fromosa cuma fulô di maracujá
cum aquêle jeitim de santa,
daquelas, qui só se vê nos artá
ai a gente cai na besteira e canta,
em versus: a primêra namorada,
a prufessora gostósa, a empregada.
E, se tá na fasi da puberdade:
-já praticando a mardade-
depôs de vê só a foto
da boasuda pelada;
inda tem vontade
de escrevê um puema
pra conforto da coitada!
Nesta fasi ti agaranto:
a gente vai ficando branco e a puesia
corada! Agente mirrando e ela,
toda impogada faz cara di donzela,
depois de puta escolada,
vai é gostando.
Seu corpo, tumando fôrma di bisqui
e a gente difinhanhdo cuma se fosse faqui.

Num tem nada a vê cumigo. Eu sô só é esberto!...

Mas a puesia é mermo muito tinhosa.
Cai muito bem numa prosa na quitanda,
Nu buteco, na iscola, inté na universidade.
Outro dia fui trabaiá, cum meu radim, lá na roça
E ouvi um locutô declamar um puema de Quintana
Êta versinhos porretas. Fiquei assim matutando:
Eu as vezes mando meus rabiscos pro fio...
E será qui meu fio gosta? Será qui intende
Direitim? Será qui num encho o saco?

Mas Deus iscreve bem certim!... Óiándo
Na tv do computadô, digo inté qui um fio
D’áqua correu nos óios.
E agora quem num intende é eu,
pois num é que o danado,
cum casaco De Dotô,
deixô de lado aquela sua escrita fria,
e, pra supresa minha,
mandô um montão de puesia!...

E foi versus bem taiados.
Parece qui, do que tava
Encruado, num daqueles osgamos brabos
o Bichim , se aliviô.
Agora o qui num é certo, em certas horas,
É qui inquanto o fio goza
quem tem de chorá é o pai.

Mas ta certo.Faz parte dos juros
quinda vô tê de pagá
Por ter sido tão arsente.
Mas estes juros, JURO, mi faz inté muito bem.
Cuma diz Seu Zé da Venda, só se consolida
( num sei direito o que é mais gostei ) uma amizade
Quando se diz verdades seja lá elas o qui fô.


Nas letras lá da telinha, estava escrita quase interinha
A vida do meu Dotô. Mi lembrei do Gonzaguinha:
“...o homem também chora...” e eu chorei.
Tinha vergonha, tinha nojo, tinha arripindimento,
em cada gota das minhas lágrimas. Pruque não butei
o pé na istrada, quando, já não era assim tão grande
a ta da distânça física? O telefone tava ali pertin,
pruque num usei cum mais cunstânça?
Medo do ... num foi, da tua mãe
Tumbém não. E intonce qui diabo
Mi fez um fraco... um covarde?
Não foi a pobre da cachaça, pois,
Ao contrário, no mais das vezes,
Ela até nos dá (farsa) corage.

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