A apoteose de Orfeu
E nessas multidões de louros
Em que me contemplo em cada ramo,
Vejo as luzes clarearem meu rosto,
Dividindo os raios entre minha boca
E meus olhos. Diante das luzes,
Os séculos futuros iam com seus olhares
Até mim, pois nesse caminho meus
Ecos se tornaram uma via pairada
Na cabeça destes póstumos.
Suas vozes tornaram-se coral:
“Se tu, ó Orfeu, és digno dos sequentes
Do caos e de Gaia, que sejas louvado
Entre nós, os feitos de pó; mas se tu
Não és, deves estar perante a uma
Ala do Parnaso com as musas e os mármores”.
E neste coro repetitivo, viam dos céus
A coroa que a Vitória servia aos
Condenados de sua sina desbravada.
Meus louros, antigos ramos de meu
Reflexo, eram tirados de meu antigo
Pensamento. Nesse instante, a coroa
De louros e meu legado aos solos desta terra,
Eram cravados à face de Clio,
Tornando-me um eterno diante do povo
Que ligará meu espírito aos deles,
Novos Orfeus às novas músicas do tempo:
É Como se eu estivesse atravessando essa
Terra, ainda não inventada, com louros atípicos
Que construirão os novos cantos
No alto de minha retumbante apoteose.