Conversando com o espelho
Tenho conversado com meu espelho estes dias. Apesar de não ser mágico, falou- me, por meio de minhas cansadas olheiras, que a vida está sendo má comigo. Contudo, está me ensinando que meus vizinhos são dignos de serem observados, para que eu não me surpreenda com seus atos, pois quando a tristeza mora ao lado, ela pode por vezes querer lhe fazer companhia.
Ainda falando com meu espelho, ele me mostrou as marcas que ficaram nas minhas costas porque algumas vezes carreguei pesos que não eram meus. Dessa forma, vi que ás vezes generosidade machuca e que algumas pessoas simplesmente não se importam com isso. Mas por quê? Será que estão tão cansadas quanto eu, ou a vaidade não as deixa enxergar? Vai saber. É por me deparar com questões como essa que vou conversar com meu espelho, ele me entende.
Disse ainda que meu semblante era para ele como uma equação matemática, em que eram somadas muitas preocupações, algumas tristezas e um pouco de alegria. Sim, é verdade.
Reaproximações com o passado combinadas a rotina trazem as preocupações e uma parte das tristezas. Apegos e tropeços no presente trazem a outra parte delas. A alegria fica por conta dos amigos, da família e das lembranças (sim, todo o passado vale a pena, incluindo os momentos ruins.). E tudo isso é igual e cansaço, que é exatamente o que estou sentindo.
Os efeitos do cansaço são incríveis. Olho pra trás e vejo tudo o que já se passou comigo, e aí a vontade de chorar é imensa. Mas, no mundo em que vivemos, devemos ser fortes e não perder tempo com choros e lamentos (pelo menos é o que se prega.).
Triste ilusão. Como bem disse Marcelo Camelo: ''Olha lá, quem acha que perder é ser menor na vida. Olha lá, quem sempre quer vitória e perde a glória de chorar''. Diante de tudo o que já expus aqui, sabe qual é a ironia? A música que acabei de citar se chama ''O Vencedor''. Nela, Camelo dá a solução para o cansaço que me aflige (e que talvez aflija você também) quando fala: ''E eu que já não quero mais ser um vencedor, levo a vida devagar pra não faltar amor.''.
Sim, esta é a solução. Tire uma ''quarentena'' para si (é o que geralmente faço). Reflita e chore, porque o choro é o desabafo da alma com relação ao mundo. E não se sinta fraco por isso, pelo contrário; todos os grandes já choraram ou tiveram medo de algo. Quem não chora diante do mundo, é porque está se tornando um robô cético e insensível, facilmente manipulável.
Por fim, sempre tenha um tempo para conversar com seu espelho. Ele vai mostrar muitas coisas. Falando um pouco mais de ''O Vencedor'', tentemos viver o que Camelo diz, principalmente quando fala: ''E eu que já não sou assim, muito de ganhar, junto as mãos ao meu redor, faço o melhor que sou capaz só pra viver e paz.''. Façamos disto o lema de nossa bandeira.
Ah, e não esqueça: viva.
Jéssyca Pinho
Belém, 22 de agosto de 2007.
(02:45)