O AMOR, EM UMA METÁFORA UNIVERSAL

É estranho quando começamos a gostar de alguém, você não acha? De repente, a pessoa começa a fazer parte de nossos pensamentos diários e, como em um piscar de olhos, você passa a se perguntar o que ela faria em determinadas situações, como reagiria às coisas mais singelas e corriqueiras da vida, como escolher a marca de um produto no mercado ou cumprimentar um conhecido na rua.

É como se a sua mente se desse conta subitamente da humanidade inerente àquela pessoa querida, e apesar de a concebermos, paralelamente, em um molde platônico, tornamo-nos cientes de que, na simplicidade de nossos atos e na ordinariedade de nossos afazeres, há mais reciprocidade e semelhanças do que se pode imaginar.

E ao vivermos assim, focados exclusivamente em querer desvendar a simplicidade de outrem no mínimo que seja, nem nos damos conta de que, no fundo, estamos estabelecendo uma relação muito mais enraizada e íntima, regada pela complexidade de nossa psique, e deixando de lado individualismos, pré-conceitos e moralismos a fim de poder engajar em um universo completamente diferente e assimétrico ao qual estamos acostumados.

E para tentarmos compreender esse cosmos além de nós mesmos, lançamos mãos dos mais diversos recursos, porque queremos explorá-lo e, de alguma maneira, em algum canto remoto, encontrar um espelho de nossa própria identidade, como um astrofísico escaneando o céu à procura de sistemas extrassolares que correspondam exatamente àquele o qual fazemos parte e já temos noção do seu funcionamento. Nosso maior engano, entretanto, é acreditar em tal fato e, por decorrência, tentar aplicar as mesmas leis que regem nosso curso de vida à vida que acabamos de contatar, sem noção das consequências que tal descuido poderia implicar.

E esta seria, por consequência, apenas uma das causas de disparidade com as quais teríamos de lidar. Em outro momento, surgiriam os mais variados desajustes decorrentes de um mesmo processo, ameaçando o despertar de um caos que, tomando em conta outra abordagem, poderia ser evitado.

Com este pensamento em mente, voltamo-nos ao conjunto primordial de ideias que nos conduziram até aqui, e passamos a tentar entender quais aspectos dessa nossa busca pela humanidade inerente em outrem, desse nosso desejo pela contemplação de nós mesmos no ser idealizado, podem contribuir para balancear nossas ações e tornar nossas relações, além do âmbito sentimental — e do que depreendemos por "amor" —, mais simétricas, mútuo-compreensivas e "humanas", em sentido estrito.

Assim, só nos resta considerar o fato de que, à medida que nos deparamos com quaisquer disparidades, divergências ou transversalismos os quais possam ser potenciais conturbadores de nossa relação extrapessoal, é preciso conhecer até onde esses aspectos seriam influenciáveis — e em que grau — a ponto de desestabilizar-nos reciprocamente.

Conhecendo isso, seríamos (ou seremos) capazes de instituir um nível harmônico de relacionamento que condiga não exclusiva e meramente com nossas expectativas, mas que proveja nossa inserção no universo alheio da forma mais natural possível, obedecendo não simplesmente às leis que regem nosso modo de vida, ou às ideias, às idealizações que projetamos em nosso consciente a respeito de alguém, mas a um conjunto de critérios os quais respeitam, validam e são capazes de viver, de conviver com as diferenças de planos existenciais interpessoais, a ponto de saber usufruir desde as experiências mais ordinárias do ser até a mais íntima e sublime aquisição do ser, seja em um nível material ou espiritual, independente de nossa concepção de sublimidade.

F H Pupo
Enviado por F H Pupo em 21/03/2025
Código do texto: T8290649
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