A Estrada Inevitável

(Sinfonia do Ser)

Meu ser, em trapos vestido,

Mãos secas qual caatinga,

Pés rachados, olhar perdido,

Maranhão, terra que vinga.

Sede na língua calada,

Mente veloz, passo lento,

Pelos Eu's, vida passada,

Divago em cada momento.

Coração ferido, forte,

Guarda segredos vividos.

Na nuvem, dados e sorte,

Sem permissão, recolhidos.

Por mil telas, vi a imagem

Do ser que mal percebi.

Quase alegria, miragem,

Só eu, no íntimo, senti.

Mandei mensagem, ousado,

Sem esperar um retorno.

Silêncio, peito agitado,

Buracos negros em torno.

No diálogo iniciante,

Ela, serena, responde.

Magnetismo fascinante,

Mudança que não se esconde.

De repente, olhos nos olhos,

Em recinto de saber,

Brilho intenso, sem antolhos,

Novo eu começa a nascer.

"Há um motor em mim", dizia,

"Respira, expira, não vês?"

Nunca notei, quem diria,

Vida pulsando através.

Vi tudo com novo olhar,

Belezas antes ocultas.

Maranhão, terra e mar,

Cores e aromas sepultas.

Flores, bichos, arvoredo,

Cafés à beira da estrada.

Pratos, aromas sem medo,

Vida mais apreciada.

Galinha, baião, tempero,

Azeite, pimenta forte.

Sentir de novo, sincero,

Sabores, sul, leste, norte.

Na estrada, cada caminho,

Ela me guia de volta.

Não mais me sinto sozinho,

Amor próprio se revolta.

Voltei à adolescência,

Músicas, simplicidade.

Entre o real e aparência,

Achei a veracidade.

Peça na linha fabril,

Alma burocrática era.

Horários, vida servil,

Em partes, vida austera.

Cansado, escrevo agora,

Não busco fama ou valor.

Carta que o tempo devora,

Sem símbolos, só ardor.

Desilusões carregadas,

Vergonhas que o ser reveste.

Destino, rotas traçadas,

Onde amanhã nos dá teste?

No banheiro, em pé, oscilo,

Pra lá, pra cá, sem firmeza.

Olhos cerrados, vacilo,

A vida é só incerteza.

Esta mensagem-poema,

Ao vento lanço, indeciso.

Quem sabe a estrada suprema,

Onde o destino é preciso?

Há quem conheça o caminho,

Na estrada da existência?

Um ponto certo, um ninho,

Onde encontrar essência?

Se alguém souber o local,

Na curva do amanhã,

Onde o tempo é real,

Me diga, por Tupã!

Nesse ponto eu chegaria,

Buscando meu próprio norte.

Nova rota eu traçaria,

Renasceria mais forte.

Ela me fez enxergar

Belezas antes ocultas.

Flores a desabrochar,

Árvores, formas incultas.

Fractais da natureza,

Do tronco à fina ramagem.

Maranhão, rica mesa,

De sabor e de paisagem.

Mas quem responde? Silêncio...

A estrada segue, impassível.

O tempo, eterno dissenso,

Flui, constante, invisível.

Sigo, então, caminhante,

Na estrada inevitável.

Cada passo é bastante,

Cada momento, notável.

Pra lá... pra cá... movimento...

A vida, eterna andança.

No fim, só o pensamento:

Ela, única esperança.

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 01/03/2025
Código do texto: T8274999
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