DA OFENSA
Lembre-se que toda ofensa é uma forma de mentira.
Quando se ofende não se tenta determinar um mal na pessoa, mas uma pessoa no mal e, portanto, uma ofensa é sempre incompleta.
Tantas vezes, se escolhe o mal a que mais se afeiçoa o ofensor, pois tem intimidade de lhe moldar, e por isso se diz contar mais sobre que diz, do que sobre quem ouve.
Mas abrir os olhos do ofensor, é tarefa árdua, e sem fim, pois não se encerra em si própria.
O que se encerra em si mesmo, é o próprio ser que ouve, e aí está a sua ferramenta de correção.
A anti-ofensa (não “contra”, que gera a mesma força em sentido contrário), é antes de tudo conhecer-se, e por isso, invalidar a ofensa, que pouco diz sobre si.
Ora, se a única razão da ofensa é enraivecer através das palavras, não sentir-se ofendido, por sabê-la incompleta, é também invalidá-la e torná-la sem valor.
Uma ofensa assim morre onde nasceu: no túmulo da boca do ofensor.
Mas e a honra? A dignidade? Mas e o orgulho?
Sobre isto, basta apenas lembrar, por fim, que as virtudes moram no coração de ouve,
e não na boca de quem diz.